Stefan é um imigrante romeno que trabalha em Bruxelas na construção civil. Ele está indo passar as férias de verão em casa, no seu país, mas não sabe se volta. Se planejando para partir, ele prepara uma grande panela de sopa com os legumes da sua geladeira e leva como um presente de despedida para amigos e familiares. Em um pequeno restaurante chinês ele conhece uma jovem belga-chinesa que trabalha ali enquanto prepara um doutorado sobre musgos. A atenção dela para o mundo do quase invisível o detém em seu caminho. Em um processo de respeito completo ao tempo e ao presente, Stefan e Shuxiu nos conduzem com tranquilidade e encanto no universo da natureza.
Roteiro: Bas Devos
Fotografia: Grimm Vandekerckhove
Montagem: Dieter Diependaele
Som: Boris Debackere
Produção: Marc Goyens
Elenco: Stefan Gota, Liyo Gong, Teodor Corban
Título original: HERE
Classificação indicativa: 10 anos
Bas Devos nasceu em Zoersel, Flanders, na Bélgica, em 1983. Seu primeiro longa, “Violet”, ganhou, em 2014, o Prêmio do Júri na mostra Generation 14plus na Berlinale. Seu segundo longa, “Hellhole” foi selecionado para o Berlinale, na mostra Panorama (2019). Ghost Tropic, seu terceiro longa, estreou três meses depois na Quinzaine des Réalisateurs, em Cannes. Devos ensina cinema na Luca School of Arts, em Bruxelas. “Here” recebeu na mostra Encounters da Berlinale 2023 o Prêmio de Melhor Filme e o Prêmio FIPRESCI.
Entrevista do diretor belga Bas Devos a Aurora Engelen publicado no site Cineuropa.
Link para a versão original> https://cineuropa.org/fr/interview/438628/#cm
"Eu queria fazer da atenção, uma exigência em nossas relações com os outros, um tema visual do filme"
Qual a origem deste projeto?
Bas Devos : No meu filme anterior, trabalhei com o ator e diretor de teatro romeno, Stefan Gota, e queria muito trabalhar com ele novamente. Naquela época, pensei muito na questão dos trabalhadores estrangeiros na Europa e percebi que havia uma comunidade romena muito grande em Bruxelas, mais de 43.000 pessoas. Eu nunca tinha notado e me perguntado por quê. Essa relativa invisibilidade me pareceu muito estranha, já que muitos romenos trabalham em hospitais e na construção civil. Eles são literalmente a base da nossa sociedade. Ao mesmo tempo, encontrei um livro magnífico de um pesquisador americano especializado em musgo, que revê sua importância, sua história, seu lugar na natureza.
Eu queria juntar esses dois movimentos, e o que desencadeou a história, uma história bem simples, foi quando tive a ideia do Stefan, que se prepara para voltar para a Romênia por algumas semanas e faz uma sopa com o que sobrou na geladeira para compartilhar com seus parentes. Eu poderia olhar para algo muito grande, que une os humanos, e para algo muito pequeno, mas fundamental e original.
No início temos o personagem Stefan, que se cruzará com um jovem especialista em briologia, como esse encontro tomou forma na sua cabeça?
Escrevi muitas versões inacabadas sobre Stefan passando de uma pessoa para outra com sua sopa. Mas eu queria inventar um personagem que fizesse ele querer parar, que prendesse a atenção dele. Eu queria uma história de amor, mas que nos levasse além do simples reencontro. Eu queria que ela representasse a capacidade de prestar atenção. Até ver o musgo, você deve concentrar sua atenção, ajoelhar-se, reconectar-se com a terra. Mas uma vez que o vemos, não podemos ignorá-lo. Foi uma forma simpática de prestar atenção, que considero um pré-requisito nas nossas relações com os outros, tema visual do filme.
Atenção requer tempo, algo que seu cinema também oferece.
Obviamente, vivemos em um mundo de distrações, e eu mesmo estou conectado ao mundo através do meu smartphone, mas para realmente estar com os outros, para vivenciar o aqui e agora mais profundamente, você tem que ser capaz de fugir do mundo exterior. E gosto que o cinema, aquela sala onde fechamos a porta durante uma hora e meia, tente oferecer esse santuário. É uma ilusão que me parece magnífica, e que também sinto quando olho para o musgo, ou quando olho nos olhos de alguém que amo.
No seu filme existe uma verdadeira poesia das paisagens urbanas, como pensa os fotogramas que o compõem?
Procuramos estar muito próximos dos personagens, incluindo-os em seu ambiente. Passamos de close-ups a tomadas mais gerais que nos permitem entender onde e como está o personagem. A maioria dessas decisões vem naturalmente do espaço. Antes, discutimos o que queremos contar, o potencial poético do filme. Sempre trabalhei muito no cinema esses dois elementos: o tempo, quanto dura um plano, e o espaço, que parte do espaço vemos e como os personagens o ocupam. Usámos um formato bastante específico, em 5:4, algo que nos permite pensar o espaço de uma forma diferente, sobretudo a forma como incluímos duas personagens nesse enquadramento. Trabalho com a mesma equipe há algum tempo. Acho que desenvolvemos uma linguagem comum.
Qual foi o seu maior desafio?
Gosto quando os filmes são emocionalmente abertos; quando o público tem espaço para viajar no filme e trazer suas próprias emoções. O que eu queria era refletir sobre a capacidade que ainda temos de nos maravilhar. É tanta beleza que não vemos bem ali na nossa frente. Essa beleza poderia aliviar algumas de nossas tristezas, se a redescobríssemos.
2023 Here
2019 Ghost Tropic
2019 Hellhole
2014 Violet
- Berlinale 2023 - mostra Encounters - Prêmio de Melhor Filme e o Prêmio FIPRESCI
- IndieLisboa
- Karlovy Vary