SEIS DIAS NAQUELA PRIMAVERA

um filme de Joachim Lafosse

92 min., 2025, BÉLGICA/FRANÇA/LUXEMBURGO, DCP

sinopse

Nas férias da primavera, Sana quer levar seus filhos gêmeos para a praia. Depois de alguns imprevistos, decidem se hospedar, sem contar a ninguém, na casa em um condomínio de luxo na Riviera Francesa de propriedade dos seus antigos sogros. Seis dias ao sol que marcam o fim da inocência.

ficha técnica

Roteiro: Joachim Lafosse
Coroteiristas: Chloé Duponchelle e Paul Ismaël
Fotografia: Jean-François Hensgens A.F.C. - S.B.C.
Montagem: Marie-Hélène Dozo
Som: Alain Goniva, François Dumont, Thomas Gauder
Produtor: Anton Iffland-Stettner, Eva Kuperman, Régine Vial, Alexis Dantec, Jani Thiltges, Hans Everaert
Elenco: Eye Haïdara, Jules Waringo, Leonis Pinero Müller, Teoudor Pinero Müller, Emmanuelle Devos, Damien Bonnard
Título original: Six Jours, ce printemps-lá

sobre o diretor

Joachim Lafosse nasceu em 1975 em Bruxelas. Após se formar no IAD, ele dirige em 2003 seu primeiro longa-metragem, Private Madness, selecionado para a competição oficial no Festival de Locarno. Em 2006, dirige dois longas-metragens: What Makes You Happy (selecionado para a competição em Locarno e vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival Premiers Plans, em Angers) e Propriedade Privada, com Isabelle Huppert (em competição no Festival de Veneza). Em 2008, lança Private Lessons na Quinzena dos Realizadores em Cannes. A reputação de Joachim Lafosse cresce a cada filme, como demonstrado pelo reconhecimento nacional e internacional de Perder a Razão (selecionado para a mostra Un Certain Regard, em que Émilie Dequenne ganhou o prêmio de Melhor Atriz). Em 2015, dirige Os Cavaleiros Brancos, com um elenco de prestígio (Vincent Lindon, Valérie Donzelli, Louise Bourgoin, Reda Kateb), apresentado em Toronto e San Sebastián (Prêmio de Melhor Diretor). Já em A Economia do Amor, com Bérénice Bejo e Cédric Kahn, foi exibido na Quinzena dos Realizadores em Cannes, em 2016, e recebeu ótimas críticas tanto da imprensa quanto do público. Em Seguir em Frente, com Virginie Efira e Kacey Mottet-Klein, estreou em Veneza, em 2018. Em 2021, ele competiu em Cannes com Os Intranquilos e em 2023 com Um Silêncio competiu em San Sebastián.

Seis Dias Naquela Primavera recebeu os prêmios de Melhor Diretor e Melhor Roteiro no Festival de San Sebastián em 2025.

+ info

Nesta entrevista o diretor Joachim Lafosse fala sobre o processo de criação de Seis Dias Naquela Primavera:

Qual foi a gênese do seu filme?

Eu sabia que, um dia, tentaria contar a história daquela estranha semana de férias, aqueles poucos dias escondidos com minha mãe e meu irmão gêmeo na casa dos meus avós paternos. Foi um momento decisivo para nós dois. Tomamos consciência da queda social da minha mãe após o divórcio. Também foi quando perdemos uma certa inocência, pois tivemos que encontrar soluções econômicas para os problemas que enfrentávamos. Por exemplo, como voltar para a Bélgica depois daquela viagem.

Contar essa história exigiu que você mergulhasse na sua memória, certo?

O processo de rememorar pelo qual passei, e quis passar, me fez perceber que vivi sentimentos muito paradoxais e contraditórios durante aquelas férias. Senti uma grande alegria por aproveitar um lugar idílico com uma mãe amorosa que cuidava bem de nós, mas também uma ansiedade terrível diante da possibilidade de a polícia nos encontrar ou de nossos avós nos descobrirem. Eu era consumido pelo medo e pela angústia.

O que fez você começar a escrever o filme?

Acredito que comecei a escrever o roteiro e contar essa história da infância porque ela coincidia com um desejo de doçura na minha trajetória como cineasta. Queria me afastar da tragédia e filmar a ternura. Claro, há gravidade nesta história, mas também muita doçura. Já sentia esse impulso quando escrevi Os Intranquilos.

Mas, enquanto isso, você fez Um Silêncio, que foi um retorno à tragédia.

Sim, mas eu havia escrito Um Silêncio talvez dez anos antes. Para mim, representa uma escrita antiga, enquanto, tanto na minha vida privada quanto na minha carreira, sinto que estou procurando um momento de relaxamento, uma espécie de calma que quero inspirar no meu trabalho.

Na verdade, quando me sentei para escrever Seis Dias Naquela Primavera percebi que a dimensão política estava muito presente. É sobre ricos e pobres, e ser pobre, neste caso, significa ter uma mãe que trabalha até tarde, que tem que ter dois empregos para sobreviver. Significa não poder pagar por umas férias, é estar preocupado, nervoso, constantemente nervoso. Eu vivenciei essas coisas com minha mãe durante minha infância e adolescência, apesar de haver tanta riqueza do lado do meu pai. Essas experiências de vida, com uma mãe forçada a trabalhar 24 horas por dia, enquanto a maior preocupação da família do meu pai era a manutenção da quadra de tênis e da vila, fizeram de mim o cineasta que sou hoje.

O que você quis mostrar com essa oposição entre o poder financeiro do pai e a precariedade da mãe?

Quis mostrar às crianças confrontadas com o poder financeiro do pai e a situação precária da mãe. É a história do “dinheiro do papai” e da precariedade da mamãe. Mesmo assim, ela é uma mãe com filhos, ela formou uma família e foi expulsa dela, mas os filhos ainda estão ali. A violência da burguesia se expressa na relação com a propriedade: como fazer as crianças entenderem que a mãe não tem mais o direito de levá-las para a casa da família, que elas já não pertencem mais totalmente àquele lugar.

Nas suas lembranças, há alguma melancolia?

Digamos que, ao ver o filme, sinto uma espécie de tristeza feliz. De todos os filmes que já fiz, este é o que mais desperta ternura em mim, porque cada dia de edição era uma nova chance de rever aquelas praias, reviver os mergulhos no mar, as partidas de bocha, a intensidade daqueles seis dias naquela primavera curiosa em que tínhamos dez anos.

filmografia

2023 - Um Silêncio
2021 - Os Intranquilos
2018 - Seguir em Frente
2016 - A Economia do Amor
2015 - Os Cavaleiros Brancos
2012 - Perder a Razão
2008 -  Private Lessons
2006 - What Makes You Happy
2006 - Propriedade Privada
2004 - Private Madness

festivais

- San Sebastian Film Festival (Melhor Diretor e Melhor Roteiro)

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