Luo Hongwu retorna a Kaili, cidade natal de onde havia fugido há vários anos. Começa, então, sua busca pela mulher amada e nunca esquecida. Ela disse que se chamava Wan Quiwen...
Roteiro: Bi Gan
Fotografia: Yao Hung-I, Dong Jinsong, David Chizallet
Montagem: Qin Yanan
Som: LI Danfeng
Música: Lim Giong, Point Hsu
Produção: Shan Zuolong
Elenco: Tang Wei, Huang Jue, Sylvia Chang, Lee Hong-Chi
Título original: Di qiu zui hou de ye wan | Título em inglês: Long Day's Journey Into Night
O diretor e escritor Bi Gan nasceu na cidade de Kaili, província de Guizhou, República Popular da China, em 1989. Em 2013, seu curta-metragem Diamond Sutra recebeu o prêmio de Menção Especial no Asian New Force Category of the 19th IFVA Festival. Seu filme de estreia, Kaili Blues, foi aclamado pela crítica, selecionado para inúmeros festivais internacionais e vendido para diversos países. Além disso, esse trabalho ganhou, entre outros, o prêmio de Melhor Diretor Emergente no Festival de Locarno (2015), o Montgolfière d’Or no 37º Festival dos Três Continentes de Nantes e' o Cavalo de Ouro como Melhor Novo Diretor, no 52º Festival Internacional de Cinema em Taipei, Taiwan.
Data de lançamento: 9 de maio de 2019
Disponível no Looke, NET NOW e Netflix
Na imprensa:
'Longa Jornada Noite Adentro' revive cinema como experiência sensorial - por Cássio Starling Carlos, na Folha de São Paulo
Domínio cinematográfico impressiona - por Daniel Shenker, no O Globo
Seu cinema é de estilo, de experimentação, de linguagem - por Neusa Barbosa, no Cineweb
Tenho uma grande dívida com Henry Miller. Li suas obras, Trópicos, Sexus e O Colosso de Marússia, quando tinha 16 anos. Além disso seu amor platônico por Lisa Lu me inspirou a assistir The Arch e descobrir grandes cineastas mandarins, ainda desconhecidos, tais como Lee Han Hsiang, King Hu, Sung Tsun-Shou, Pai Chingjui e Li Xing, muito antes da Quinta Geração de Hou Hsiao-hsien, Edward Yang e Fred Tan.
Agora, sete meses após o coração de Hu Bo, diretor de Um elefante sentado quieto, parar de bater tragicamente, surge o último filme de Bi Gan, Longa jornada noite a dentro. Chego a dizer, inclusive, que esta é uma geração de poesia ardente.
Você não acha que esses dois filmes operam como duas tochas flamejantes no meio da noite?
Uma poesia de verbos.
Não de adjetivos, de detalhes.
Esta poesia medieval, sombria e dura, como a de Villon e Chassignet,
espalhou-se depois pelas obras de Verlaine, Carco e de La Vaissière.
Aproxima-se também de Audiberti – uma poesia de sangue, sangue jorrando
da terra, correndo freneticamente em nossas veias e se espalhando, vasta.
Infelizmente, Pierre Ryckmans, também conhecido como Simon Leys, morreu apenas quatro anos antes.
Ele teria celebrado Bi Gan, tal como ele fez com Shi Tao e Shen Fu.
E assim, nasce, realmente, a Oitava Geração.
por Pierre Rissient, 19 de abril de 2018*
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Entrevista com Bi Gan*
O título chinês do filme, Last Evenings On Earth, é tirado de um conto de Roberto Bolaño e o título internacional é inspirado em uma peça de Eugene O’Neill. As únicas semelhanças entre eles são os temas da noite e da jornada?
(Risos) Para mim, escolher títulos e nomes de personagens é sempre um pouco desafiador. Neste caso, todos os nomes dos personagens do filme são nomes reais de cantores populares. Escolhi nomes que gosto e que combinavam com o espírito do filme. Assim como os títulos dessas duas obras de literatura.
Depois de Kaili Blues, como você abordou este novo projeto?
Em primeiro lugar, do ponto de vista técnico, não estou satisfeito com Kaili Blues. Lamento não ter conseguido fazer certas coisas porque tínhamos um orçamento limitado. Com este novo filme, tentei realizar meus sonhos e conhecer mais sobre a indústria cinematográfica. Além disso, sempre fui fascinado pelas pinturas de Chagall e pelos romances de Modiano. Queria fazer um filme que se aproximasse de suas obras, pelas emoções e sensações que evocam.
Trata-se, então, da mágica de Chagall combinada às questões de Modiano sobre as memórias?
O filme todo o filme brinca com memórias, a magia das memórias.
Estilisticamente, Long Day's Journey Into Night é uma reminiscência de um filme de gênero. Foi essa sua primeira motivação para realizá-lo?
Nunca fiz cursos de roteiro, então desenvolvi meus próprios hábitos de escrita. Para começar, no que diz respeito ao roteiro, Kaili Blues é um road movie. Após escrever o primeiro rascunho, comecei a destruí-lo por dentro, pouco a pouco. Isso criou uma forma que me agradou. Originalmente, Long Day's Journey Into Night era um filme noir, próximo de Double Indemnity, de Billy Wilder. A partir desse meu processo de "destruição" de cena após cena, o filme finalmente assumiu o estilo que tem hoje.
Para mim, a primeira parte aborda questões relativas ao tempo e a memória em diferentes cronologias. Já a segunda, trata da noção de espaço, que é enfatizada por um único plano sequência e pelo uso do 3D.
É um filme sobre memória. Depois da primeira parte (em 2D), queria que o filme assumisse uma textura diferente. Na verdade, para mim, o 3D é apenas uma textura, tal qual um espelho que transforma nossas memórias em sensações táteis. É somente uma representação tridimensional do espaço; mas acredito que essa sensação tridimensional remete às nossas lembranças do passado. De qualquer maneira, as imagens em 3D são bem mais falsas do que as imagens em 2D, mas se assemelham bem mais às nossas memórias.
"Dangmai" é uma cidade, um mundo real que você criou em seus filmes.
Inicialmente, Dangmai era um lugar imaginário. Ao longo da minha obra, tornou-se uma encruzilhada de diferentes linhas de tempo. Neste filme, é o pano de fundo das memórias, um lugar semelhante a um sonho que realmente existe.
O filme evoca um sonho e, ao mesmo tempo, parece conectado ao nascimento do cinema. Tem ainda uma atmosfera bastante úmida, que, de alguma forma, remete a Wong Kar-Wai. Isso está ligado ao clima de sua cidade natal, Kaili, onde você gosta particularmente de filmar?
Sou um grande fã de Days of Being Wild e talvez seja inconscientemente influenciado pelo trabalho de Wong Kar-Wai, que tem um grande significado para a geração mais jovem de cineastas chineses. Kaili está localizada numa área subtropical, então chove sempre, especialmente durante o verão.
Tenho a sensação de que, para você, o cinema é, antes de tudo, uma forma de criar atmosferas e sentimentos. Não se trata simplesmente de contar uma história, pelo menos, isso não é o mais importante.
Com certeza. Sempre tento capturar a atmosfera dos locais onde filmo para retratar sua autenticidade. Para fazê-lo, quase sempre mudo as cenas quando entro no set, antes de começar a filmar. Os atores acabam se acostumando e se inspirando nessa estratégia. Quando todos no cenário buscam esse tipo de autenticidade, fico realmente fascinado. O enredo em si é sempre bem comum. Este filme é simplesmente sobre um homem que sai à procura de uma mulher. Meu desejo era capturar as emoções. Evitei filmar cenas demasiadamente explicativas. Sabia que elas redundariam apenas em um filme puramente narrativo.
Porém, você não acha que "um filme deve ser fácil de entender”? (risos)
Sempre me disseram que meus filmes são difíceis de entender. Mas isso é errado, você precisa senti-los! Se não gravo as cenas explicativas usuais, é porque elas me deixam com preguiça. Tendemos a dizer para nós mesmos: “Já que eu tenho um fio de enredo, tudo o que preciso fazer é segui-lo — é fácil. ” Mas sem essas cenas narrativas, ainda se pode entender o enredo. Além disso, ele nos oferece boas surpresas.
Como foi a filmagem?
Parei as filmagens no primeiro dia (risos). Não estava feliz com o design de produção. Isso durou certo tempo, houve muita pressão e eu estava realmente tenso. Em seguida, parei novamente a filmagem duas ou três vezes, sempre por causa do design da produção... ou porque não estava em condições de gravar. Finalmente concluímos o filme alguns dias antes do Ano Novo chinês de 2018 (meados de fevereiro).
Parece que você precisa se reinventar o tempo todo para reavaliar o processo de criação, gravação e até da edição. Trata-se de um processo desafiador?
A gravação é sempre muito difícil para mim. Preciso me sentir em risco, quase como se tivesse que escapar da morte para poder continuar criando. Costumo dizer a mim mesmo que a obra é péssima, mas no dia seguinte surge uma nova ideia e tudo se ilumina dando vida nova ao filme. Acho que, para os criadores é necessário se questionar para sair da zona de conforto, mesmo que isso signifique "destruir" a si mesmo. Estou convencido de que muitos grandes cineastas são assim; embora, obviamente, não me considere um deles. Isso é algo que já experimentei no Kaili Blues. Seja com um orçamento grande ou pequeno orçamento, não posso me contentar em fazer um filme, apenas porque tenho um roteiro. Isso não é suficiente para mim, não é inspirador o suficiente.
Trata-se de um romance, de um filme noir ou de um filme de ficção científica?
Acho que ele desafia a categorização. Minha maior esperança é que seja um filme diferente de qualquer outro. Mas, também pode ser todos os três juntos, não é?
Entrevista a Wang Muyan, 28 de abril de 2018*.
*Extraído do material de divulgação do filme
2017 | Long Day’s Journey Into Night
2016 | The Secret Goldfish (curta)
2015 | Kaili Blues
Cannes 2018 (Un Certain Regard)
Toronto 2018
International Film Festival (2018)