Anna, mãe de três filhos, está sempre correndo: do trabalho para o berçário, a escola, o balé, a aula de esgrima. Como se não bastasse, ela suspeita que está sendo traída pelo marido. Seus problemas são bastante comuns, mas Anna simplesmente não tem tempo para parar e refletir sobre eles, que se acumulam continuamente, ameaçando esmagá-la. Ela precisa ter muita energia para seguir em frente.
Roteiro: Zsófia Szilágyii, Réka Mán-Várhegyi
Fotografia: Balázs Domokos
Montagem: Máté Szórád
Som: Tamás Székely
Música: Máté Balogh
Produção: Edina Kenesei, Ági Pataki
Elenco: Zsófia Szamosi, Leo Füredi, Ambrus Barcza, Zorka Varga-Blaskó, Márk Gárdos, Annamária Láng, Éva Vándor, Károly Hajduk
Título original: Egy Nap | Título em inglês: One Day
A escritora e diretora Zsófia Szilágyi graduou-se como professora de gramática e literatura húngara na Universidade de Pécs, em 2002. Estudou direção de cinema e televisão na Academia de Cinema e Teatro de Budapeste, de 2002 a 2007. Durante o curso, participou de um programa de bolsa de estudos oferecido pela agência nacional Leonardo Da Vinci, da Bulgária, e estudou produção na Mediopolis Film-und Fernsehproduktion GmbH, em Berlim, em 2006. No mesmo ano, participou, como roteirista e assistente de câmera de “Heimat, Europa?”, projeto audiovisual desenvolvido pela organização Kolleg für Management und Gestaltung nachhaltiger Entwicklung GmbH. Em 2011, foi contemplada com uma bolsa de estudos do Instituto Goethe em Hamburgo. Um dia é seu filme de estreia.
Lançamento: 11 de outubro de 2018
Na imprensa:
Bonequinho aplaude de pé: 'é com punho forte sobre atuações, enquadramentos montagem e trilha sonora que se acompanha o sufoco da banalidade do cotidiano' - por Susana Schild, no O Globo
A angústia de uma mulher, num dia que vale por todos - por Luiz Carlos Merten, no Estadão
É por apostar na realidade e abrir mão dos atalhos da ficção que “Um Dia” consegue ser tão bom e verdadeiro - por Matheus Fiore, no Plano Aberto
Um Dia' se insere no rol de filmes que lidam com o mal-estar contemporâneo - por Sérgio Alpendre, na Folha
Com 'Um Dia', a diretora estreante Zsófia Szilágyi cumpre o papel de incomodar - por Tiago Belotti, na CBN
por Zsófia Szilágyi
(diretora de Um Dia)
Quando tinha filhos pequenos, uma amiga me descreveu seu dia típico e o fez em segmentos de dez minutos. Foi surpreendente ver o que é necessário para a condição de mãe em um cronograma tão detalhado. Também foi surpreendente ver como isso era difícil, mas o mais surpreendente foi perceber o pouco que eu sabia sobre essa dificuldade, como se os fardos da maternidade fossem um segredo ou tabu. Tentei entender o que tornou essa descrição de seu dia típico tão dolorosa.
Muitas vezes, tenho visto as mães se estressarem ao tentarem fazer tudo com perfeição ou simplesmente concluir uma tarefa. Além disso, elas parecem sofrer com um constante sentimento de culpa. Trata-se de uma corrida contra o relógio. Elas não conseguem atender às diferentes necessidades de todos, por isso, alguém invariavelmente acaba ficando com a menor parcela do negócio. Na maioria das vezes, as mães ficam com a menor parcela. Por falta de uma solução melhor, elas deixam suas próprias necessidades de lado, por anos ou até mesmo décadas. A maternidade parece apontar para a finitude de nossas opções.
Anna, a protagonista do filme, cuida das coisas: cumpre as exigências dos outros, tenta equilibrar e priorizar as diferentes expectativas. As tarefas são diferentes, por vezes, engraçadas, estressantes, surpreendentes ou, até mesmo, belas. Seu dia segue em frente preenchido por várias questões. Anna reage, pois, essas questões exigem uma reação, e tem apenas alguns momentos fugazes para digeri-las, olhar pela janela ou, quando ninguém a observa, deixar a compostura de lado. Há anos, vive com a impressão de ter pouquíssimo tempo para si mesma.
De maneira lenta e consistente, o filme mostra, o dia de Anna a partir de seu ponto de vista. Essa mesma perspectiva e a manipulação do tempo compõem o núcleo do filme. Passamos por certas ações repetitivas de forma não muito elegante, tampouco mudamos nossa perspectiva. Passamos por essas ações repetitivas tal como Anna. Ela não consegue evitá-las, nós também não. O filme fala sobre o cotidiano e a natureza contundente da rotina.
Há algo absolutamente comum e incrivelmente cruel (impressionante como isso pode ser tão implacável e, ainda assim, tão comum) sobre a necessidade de alguém - não apenas mães ou mulheres - cuidar das coisas, satisfazer demandas, resolver problemas e lembrar de tarefas, cotidianamente, por anos a fio. Sobre a falta de oportunidade para fazer algo por si mesmo e, depois de algum tempo, nem mesmo saber o que seria esse algo. Sobre ter no máximo dez minutos por dia para simplesmente se sentar em silêncio e não pensar em sua próxima tarefa. Trata-se da soma de opções que temos para nos libertar das restrições dos seus deveres e das boas maneiras. Deixamos nossas vidas passarem por nós sem muito drama como se fosse apenas o trem da manhã. O maior desafio para mim foi reunir a família. Queria uma família real, seja lá o que isso significa. Lembro-me claramente do momento em que, no final de um longo processo de seleção, finalmente conseguimos a nossa família. Enfim, pensei, tudo que preciso fazer agora é gravar o filme. Não pode ser tão difícil.
Durante as filmagens, tivemos a chance de compartilhar as batalhas de nossa protagonista: quando se tratava de tempo, cada minuto contava, quando se tratava de dinheiro, o mesmo acontecia com cada centavo. Não podíamos ter nenhum atraso, as crianças não podiam se dar ao luxo de ficarem doentes, não tínhamos dinheiro... Um orçamento extremamente modesto significava um número proporcionalmente grande de dias de filmagem, o que exigia trabalho em equipe e muita criatividade.
Filme exibido nas seguintes cidades: Aracaju, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Niterói, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo
2013 | Impasse (documentário)
2010 | In Captivity (curta documentário)
2009 | Step test (curta/short)
2007 | The Siege of Budapest – part III. (documentário)
2006 | Somewhere neutral (curta)
Semaine de la Critique (2018, Prêmio FIPRESCI)
Sydney Film Festival (2018)
Sarajevo Film Festival (2018)